segunda-feira, 26 de março de 2007

"Vocação de Poeta

Ainda outro dia, na sonolência
De escuras árvores, eu sozinho,
Ouvi batendo, como em cadência,
Um tique, um taque, bem de mansinho...
Fiquei zangado, fechei a cara -
Mas afinal me deixei levar
E igual a um poeta, que nem repara,
Em tique-taque me ouvi falar

E vendo o verso cair, cadente
Sílabas, upa, saltando fora,
Tive que rir, rir, de repente,
E ri por um bom quarto de hora.
Tu, um poeta? Tu, um poeta?
Tua cabeça está assim tão mal?
- "Sim, meu senhor, sois um poeta",
E dá de ombros o pica-pau."

(Friedrich Nietzsche, trecho de poema de Das Canções do Príncipe Livrepássaro, poemas de 1882-1884, publicados em apêndice 'a Gaia Ciência, na edição de 1886.)

Quem me dera fosse poeta, mas como não sou...